"Parem os barcos". Representação de migrantes queimada na Irlanda do Norte

As autoridades da Irlanda do Norte estão a investigar uma fogueira feita esta semana numa pilha de paletes que tinha, no topo, uma representação de migrantes num barco. Era também visível uma faixa com a mensagem "parem os barcos". Outra faixa reclamava que "os veteranos estão primeiro do que os refugiados". A polícia pretende determinar se esta ação foi um incidente de ódio.

Carla Quirino - RTP /
Moygashel Clodagh Kilcoyne - Reuters

Um modelo de barco com manequins representando refugiados foi colocado no alto de uma pira de paletes de madeira, em Moygashel, uma cidade pró-britânica perto de Belfast, no condado de Tyrone.

Na estrutura estavam colocadas duas faixas gigantes onde se lia “parem os barcos” e, logo a baixo, “os veteranos estão primeiro do que os refugiados”.


Pira de paletes de madeira em Moygashel | Clodagh Kilcoyne - Reuters

A pira foi incendiada na noite desta quinta-feira, semanas depois dos ataques violentos às casas de imigrantes nas proximidades. Entretanto a polícia disse que "recebeu uma série de relatos sobre a fogueira em Moygashel e o material que foi colocado sobre a pira".

Esta manifestação em forma de fogueira provocou condenações de políticos em todas as divisões políticas da Irlanda do Norte.

Também o arcebispo da Igreja da Irlanda, John McDowell, disse que este incidente era "racista, ameaçador e ofensivo e certamente não tem nada a ver com o cristianismo ou com a cultura protestante e é de fato desumano e profundamente subcristão".

Em simultâneo a polícia declarou que está a investigar o incidente como crime de ódio. Acrescentou que não podia ter intervindo antes da ser ateada porque as autoridades só podem agir “dentro do quadro legislativo que existe”.

Citado pela BBC, o Comité Moygashel Bonfire veio argumentar que a fogueira "topper" não deve ser vista como "racista, ameaçadora ou ofensiva". Apenas está a "expressar o nosso desgosto com a crise em curso que é a imigração ilegal".


Pira de paletes de madeira em Moygashel incendiada por foguetes | Clodagh Kilcoyne - Reuters

Os bombeiros levam duas horas para extinguir a controversa fogueira coberta com “barco de migrantes”.
“Incidente de ódio”
Patrick Corrigan, da Amnistia Internacional, citado no Belfast Telegraph, afirma que a fogueira em Moygashel deveria ter sido interrompida.

“É vergonhoso que as autoridades tenham permitido que essa exibição desprezível de ódio fosse realizada. Que mensagem chocante para enviar às famílias migrantes locais”, realçou.

“Passaram apenas algumas semanas que as famílias migrantes foram forçadas a fugir para salvar suas vidas quando suas casas foram atacadas e incendiadas – um padrão arrepiante de hostilidade crescente”, continuou.

“As autoridades devem tratar deste incidente como um crime de ódio, conduzir uma investigação completa e garantir que os responsáveis sejam responsabilizados. Racismo, xenofobia e ódio não têm lugar aqui – e isso deve ser inequivocamente claro", rematou.
Tradição: fogueiras para assinalar a vitória do rei protestante
Nos dias que antecedem o 12 de julho, esperam-se que sejam ateadas cerca de 300 fogueiras. Isto porque grupos protestantes na Irlanda do Norte celebram a vitória do rei Guilherme III sobre as forças do rei católico deposto, Jaime II, na Batalha do Boyne, em 1690 - acontecimento que cimentou o controlo protestante desta região.

Estes festejos, que fazem parte da história e cultura da Irlanda do Norte, alimentam, por vezes, as tensões com os católicos que se opõem ao Governo britânico no território.

O Serviço de Polícia da Irlanda do Norte reportou que os seus agentes estariam no terreno durante o fim de semana e tomariam “medidas e ações firmes e proporcionais para manter as pessoas seguras”.

“É vital que, ao supervisionar esses eventos, façamos isso de uma maneira que respeite as origens e culturas de todos que compartilham esses bairros”, declarou o chefe de polícia Jon Boutcher citado na Reuters. 

“Não há lugar para ódio ou intimidação – apenas espaço para celebração que acolhe e celebra não se divide”, sublinhou.

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